Violinos combatem insucesso escolar

Sociedade Civil19 Março, 2010

Na escola Luís António Verney vive-se um autêntico espírito de empreendedorismo escolar. Conotada há muito com a espiral de insucesso dos alunos de Chelas e Marvila, a instituição aposta em novos projectos para inverter o ciclo de abandono escolar. A orquestra de violinos é um dos exemplos.   Sinónimo de alegria, união e partilha de […]

Violinos combatem insucesso escolar

Na escola Luís António Verney vive-se um autêntico espírito de empreendedorismo escolar. Conotada há muito com a espiral de insucesso dos alunos de Chelas e Marvila, a instituição aposta em novos projectos para inverter o ciclo de abandono escolar. A orquestra de violinos é um dos exemplos.

 

Sinónimo de alegria, união e partilha de valores, a música pode ser terapêutica em vários sentidos e fonte de auto-estima e confiança. E é precisamente esta onda de energia positiva que se vive entre um grupo de 30 alunos de Chelas e Marvila que entusiasticamente abraçaram o arrojado projecto artístico lançado pela Escola Luís António Verney (EB 2,3) para aprender violino e violoncelo.

 

Com esta e outras iniciativas, o estabelecimento do bairro Madre de Deus está empenhado em criar uma autêntica revolução que substitua o estigma do insucesso e do abandono escolar por um compromisso de alunos, pais e de toda a comunidade local.

 

Rotulados como meninos ?difíceis? nas disciplinas curriculares, muitos dos que participam na orquestra da Verney, mas também os que se envolveram na oficina de artes, no projecto da eco-escola, entre outros desafios, estão a surpreender pela sua espantosa capacidade de concentração, entusiasmo e disciplina.

 

«Até há algum tempo, a imagem que estes jovens tinham da escola era de insucesso, de falhanço, de frustração. Nós queremos inverter isso. Queremos mostrar que aqui não há só indisciplina e conflito mas também sucesso e iniciativas agradáveis», sublinha Luís Dias, director desta escola há pouco mais de um ano.

 

O ambiente de empreendedorismo escolar vivido nos tempos mais recentes já começou a dar resultados como se pôde comprovar no concerto de Ano Novo dos violinos da Verney ou na festa de Natal. A motivação dos jovens contagiou não só os pais, mas também toda a comunidade local. Presentes, estiveram representantes das associações e colectividades da zona com as quais o estabelecimento se relaciona, como a escola de futebol, o clube de seniores ligado à oficina de artes da Verney ou a associação que congrega as várias culturas existentes nos bairros circundantes.

 

Violinos da Verney na Aula Magna

Na Luís António Verney, o contributo escolar extravasa as suas funções mais directas. Às disciplinas essenciais e às actividades extra-curriculares, motor de inspiração e motivação, junta-se ainda o empenho em conseguir satisfazer as necessidades mais básicas dos alunos, que no agrupamento são cerca de 1.000, a grande maioria dos quais oriundos de famílias carenciadas. Luís Dias gosta de exemplificar com a pirâmide de hierarquia de Maslow: «Nenhum miúdo aprende com fome, nenhum miúdo aprende com frio. Enquanto as necessidades básicas não são satisfeitas, não vale a pena falar de aprendizagem». Por isso, se garante não só alimento, mas também roupas e livros para quem quiser, graças a parcerias com outras instituições. Estabelecer parcerias, aliás, é uma das regras de ouro da gestão escolar para conseguir frutos em várias vertentes.

 

Em relação ao projecto do violino, que vai agora no segundo ano, o ministério da Educação abriu a possibilidade de parcerias com instituições privadas, no âmbito de uma portaria para o ensino artístico. Foi assim que começou a relação da Verney com a Academia de Música de Lisboa. Os professores da Academia deslocam-se à escola para leccionar as aulas de canto para os meninos que fazem parte do ?coro Verney?, para os alunos de violoncelo (os ?Verneycellos?) e para os 26 jovens (entre os 10 e os 14 anos) que fazem agora parte da já respeitável orquestra dos ?violinos da Verney?.

 

No início, a academia emprestou todos os instrumentos mas, a pouco e pouco, à medida que a afinação melhorava e a motivação se consolidava, foram muitos os que convenceram os pais a comprar os violinos. «Se pensarmos que cada um custa à volta de 100 euros e que algumas destas pessoas passam por um contexto sócio-económico difícil, se percebe o gosto dos miúdos e o esforço dos pais em concretizar este sonho», conta o director, acrescentando que os alunos já deram vários concertos não só na comunidade local (associações recreativas, comissão de protecção de menores, etc) mas também na Aula Magna.

 

Um dinheiro bem gasto pelos pais e pelo ministério da Educação que financia o projecto de parceria com a academia de música. «Bem gasto porque está a servir para aumentar a auto-estima dos alunos e das famílias e para os aproximar da escola. É um projecto que vale a pena ver crescer», remata ainda o director da escola Luís António Verney.