Em pouco mais de um ano foram organizadas três sessões de cinema solidário. A Zon disponibilizou as salas, as empresas que apoiam a instituição Movimento de Defesa da Vida (MDV) deram donativos e convidaram clientes, amigos, funcionários ou fornecedores para assistir ao filme. No final, foram angariados 200 mil euros. Uma verba fundamental para evitar […]
Em pouco mais de um ano foram organizadas três sessões de cinema solidário. A Zon disponibilizou as salas, as empresas que apoiam a instituição Movimento de Defesa da Vida (MDV) deram donativos e convidaram clientes, amigos, funcionários ou fornecedores para assistir ao filme. No final, foram angariados 200 mil euros. Uma verba fundamental para evitar que o Projecto Famílias, do MDV acabasse e a instituição fechasse portas por falta de sustentabilidade financeira.
Esta solução inovadora para arranjar dinheiro foi encontrada pelo MDV juntamente com a Call to Action, uma empresa de consultoria em fundraising, que ajuda organizações do terceiro sector a angariarem fundos e a sustentarem-se financeiramente. Hoje, organiza em Lisboa o seu segundo seminário internacional.
«Primeiro, tentámos perceber o que é o MDV, e o que, dentro do que eles fazem, pode ser mais aliciante para cativar o doador», explicou ao DN Mariana Rebelo de Andrade, da Call to Action. Depois, foi elaborada uma estratégia de angariação de fundos, que passa pelo produto inovador Cinema Solidário, mas também pela reactivação de sócios “mortos” – que não pagam quota mas podem voltar a contribuir – e pela definição de novas formas de pedir donativos a particulares e empresas.
Antes do filme, é apresentada a instituição e o seu Projecto Famílias, que faz uma intervenção exaustiva durante seis semanas em lares problemáticos e na iminência de verem os filhos retirados pelo tribunal. No final, os convidados podem deixar os seus contactos para comunicações posteriores, inscrever-se como sócios ou voluntários, ou até fazer donativos. “As pessoas querem dar, algumas não sabem como. Precisam de uma chamada para a acção, de se envolverem, de perceberem qual a razão para apoiar determinada causa”, adianta Madalena Alves Pereira, da consultora.
«O MDV estava em risco de fechar. Não fazíamos campanhas de angariação de fundos porque não tínhamos capacidade. Sobrevivíamos com donativos e protocolos com instituições», explicou ao DN Graça Mira Delgado, responsável da instituição, lembrando, por exemplo, as dificuldades que surgiram quando cessou o protocolo com a Câmara de Lisboa. Agora, a instituição tem um acordo com a Segurança Social e com a Fundação Calouste Gulbenkian, mas, mesmo assim, teve necessidade de contratar uma pessoa para tratar da angariação de fundos e evitar situações de ruptura.
Fazer um relatório de contas ou de actividades, concorrer a uma candidatura internacional, trabalhar a marca ou a imagem da instituição ou organizar um evento para angariar fundos são tarefas complicadas para quem não é profissional da gestão ou de comunicação. E não são prioridade, quando se trabalha para colmatar as necessidades básicas das famílias, como a alimentação, a habitação, a saúde ou o emprego.
«Não há muita profissionalização no terceiro sector. É preciso mais apoio na comunicação e na gestão. Nós ajudamos as associações e instituições a gerirem a sua marca de maneira diferente para que as pessoas sintam segurança ao dar», explica Madalena Alves Pereira. Tal como no sector lucrativo, aqui o mercado é competitivo. «Há muita gente a pedir. Quem está cá, tem de saber diferenciar-se e vingar», diz, acrescentando que, entre os portugueses, não há uma grande cultura de doação.
Ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, onde há até empresas especializadas em testamentos para obras sociais, em Portugal esta consultoria só agora surgiu.
A maioria das instituições pede ajuda para organizar eventos de beneficência, embora esta não seja a acção mais eficaz em termos de custo-benefício. A urgência das instituições é sempre arranjar dinheiro para pagar salários e despesas correntes.
A Call to Action ajuda também as empresas a escolherem quem devem apoiar. As causas mais atractivas estão relacionadas com as crianças, os sem-abrigo e o combate à fome.