Membros da associação Pais 21, duas grandes mulheres para dois pequenos (grandes) heróis. Pessoas comuns, que em algum ponto decidiram que não podiam deixar passar mais tempo sem fazer alguma coisa
«Somos pessoas comuns, com a nossa vida rotineira, que em algum ponto da nossa caminhada decidimos que não podíamos deixar passar mais tempo sem fazermos alguma coisa por alguém que precise. Desde pequenas, sempre fomos muito despertas para a diferença, fosse ela qual fosse… Portanto não seria difícil perceber que queríamos ajudar alguém que não seria ajudado… A Maria João adotou o Bruno, menino lindo cor de chocolate com os olhos amendoados e eu adotei o Miguel, o meu pequeno açoriano.
Mas como é que isso é diferente do que já muita gente faz? Eu digo-vos…
O Bruno tem Síndrome de Down e o Miguel tem toxoplasmose e mais algumas complicações. E é aqui que penso que há tanta criança perdida nestas instituições, à espera de uma família que nunca chega, e está nas nossas mãos realizar os sonhos destes pequenos.
Numa sociedade em que cada vez mais se tenta acabar com a deficiência, pois até já temos exames que podem detetar se o feto tem ou não Síndrome de Down, e a percentagem de abortos que há depois de um diagnóstico positivo à trissomia 21 estar a subir vertiginosamente, é nosso dever como cidadãs mostrar à sociedade que estas crianças são uma mais-valia.
E foi neste contexto que surgiu a possibilidade/necessidade/interesse de escrevermos o livro «O Tesourinho, uma nova vida» (Alphabetum Edições Literárias). Aqui pretendemos dar a conhecer a história dos nossos pequenos (grandes) heróis. No livro apenas falamos do Miguel no último capítulo, porque o menino só chegou à minha vida em agosto do ano em que foi concluído o livro.
Neste livro procuramos, mais do que mostrar as diferenças, mostrar as igualdades. O Bruno tem o fenótipo associado ao Síndrome de Down, pelo que, qualquer pessoa passa por ele e pode perceber o que tem. No entanto, o Bruno (e qualquer outra criança/adolescente/adulto com Síndrome de Down) tem direito à vida plena em sociedade como qualquer um de nós.
Apenas tentamos mostrar que, independentemente das igualdades e diferenças de cada um de nós, todos temos direito a um lugar na sociedade em que vivemos e que, todos nós, de uma forma ou de outra, seremos uma mais-valia para as comunidades onde vivemos.
Nós, a Maria João e eu, vamos, à nossa maneira, tentando mudar mentalidades, para que crianças, à partida com um handicap, possam alcançar os direitos e deveres de qualquer cidadão ativo na nossa sociedade.
E como tal, tentamos que as pessoas acreditem neles, porque nós acreditamos e o que recebemos em troca é tanto que o comum mortal não pode imaginar a não ser que lhe passe um anjo destes pela sua vida.»