Quadros de empresas, muitos em cargos de liderança, ofereceram-se para ser mentores de imigrantes que vivem em Portugal. Trata-se de um projeto-piloto de apoio à integração de imigrantes vai passar a ser um projeto nacional.O jornal Público conta a história de dois dos pioneiros deste projeto, Manuel e Hermenegildo, e como passaram para o papel o sonho de uma grande exploração agrícola em Angola.
â??Manuel Ferreira, 57 anos, quadro do banco Montepio, não percebia nada de agricultura. Hermenegildo Soares, 43 anos, com um curso de Direito por terminar, também não. Mas Hermenegildo, descendente de camponeses, andava a amadurecer uma ideia havia algum tempo: fazer nascer nas vastas propriedades da família, no Norte de Angola, um grande projeto agrícola, como Angola ainda não conhecia. E criar «animais raros», como gnus e búfalos».
Manuel sabia como tornar um projeto atraente para investidores e por isso aceitou ser mentor de Hermenegildo, um angolano a viver em Portugal desde a década de 90, integrando assim o Programa Mentores para Imigrantes, que irá ser apresentado em Setembro pelo Governo.
Paula Guimarães, presidente do GRACE — Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania, explicou ao Público que «A ideia foi do Alto Comissariado para as Migrações (ACM). O GRACE funcionou como estrutura de mediação».
â??Solicitámos às empresas nossas associadas que fizessem a divulgação interna do projeto de mentores. Os voluntários, candidatos a mentores, são normalmente pessoas que estão em posições de liderança, com vidas intensas, horários preenchidos». Mas que vêm nesta ideia algo em que vale a pena apostar.
â??Há pessoas com dificuldades de integração, até do ponto de vista cultural, com vontade de conhecer mais sobre a cultura do país, os hábitos, a história. E o mentor ajuda-os», continua a presidente do GRACE. «O mentor também pode ajudar a pensar, a fazer análise crítica de um projeto que o mentorado tem… Cada pedido do mentorado é um pedido, cada caso é um caso».
O projeto-piloto que já dura há dois anos contou com diversos «pares» de características distintas. Um imigrante moldavo queria adquirir conhecimentos em programação de aparelhos móveis para iniciar uma atividade profissional nessa área e recebeu ajuda de um quadro da IBM para fazer um protótipo de uma aplicação. Outra «dupla» contava com um quadro da EDP e uma advogada com dupla nacionalidade, congolesa e francesa. Esta última sentia necessidade de perceber melhor a cultura do país e de desenvolver mais o português. A relação entre as duas desenvolveu-se sobretudo através de emails com a funcionária da EDP.
No total, foram 124 os imigrantes em contacto com o projeto-piloto, dos quais 31 foram integrados em projetos de mentoria e outros tantos estão prestes a arrancar. As áreas mais procuradas foram «empreendedorismoâ?? (39%) e «qualificação e procura de emprego» (29%).
Pedro Lomba, secretário de Estado Adjunto do Ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, pretende generalizar o Projeto Mentores para Imigranteso a nível nacional. Fez um convite às instituições parceiras da rede dos centros locais de apoio aos imigrantes, que contam com autarquias, IPSS, empresas, entre outras e disse em entrevista ao Púbico já ter mais de 100 respostas positivas.
Precisando de enquadramento teórico, de acompanhamento e de avaliação, este programa alimenta-se, sobretudo, de duas coisas que não custam dinheiro: «A extraordinária disposição dos portugueses para o voluntariado e o facto de as empresas terem percebido que a sua imagem de mercado não tem apenas a ver com a sua eficácia, mas também com a sua responsabilidade social», referiu Pedro Lomba.
O governante espera por isso que muitas centenas de imigrantes sejam abrangidos. Uma plataforma informática com informação estará disponível no site http://mentores.acm.gov.pt/. Algumas das principais áreas de intervenção serão «Qualificação e procura de emprego», “Empreendedorismo», “Saúde» e «Parentalidade».