A crise económica tem alterado o perfil das pessoas que recorrem à Cais. Cada vez há mais pedidos de jovens com habilitações
Em entrevista à Lusa, a propósito dos 20 anos da associação Cais, a presidente da instituição admitiu que, hoje, a associação já não recebe o mesmo tipo de pedidos de ajuda.
“Há 20 anos, estávamos a falar da exclusão dos sem-abrigo, típica da pessoa que está na rua, que já não tem padrões, que já perdeu a noção até do que é a higiene pessoal e perdeu os seus contornos de dignidade”, lembrou Anabela Pedroso. Atualmente, as pessoas que pedem ajuda à Cais “vêm de bairros camarários, não estão na rua, e têm habilitações ligeiramente acima daquelas que [tinham as pessoas que] recebíamos há 20 anos”, explicou.
Além dos imigrantes da Europa central, que constituíram durante muito tempo o maior grupo de apoiados pela Cais, a associação recebe hoje pedidos de muita gente que está em vias de perder a casa e jovens pais sem habilitações académicas.
“[Recebemos pedidos de ajuda de] casais na ordem dos 45/55 anos que estão em vias de ficar a viver na rua”, a quem a Cais quer “criar novamente condições porque ainda não estão, a nível psicológico e emocional, totalmente destruídas”, afirmou a presidente, acrescentando ter surgido um outro grupo de excluídos.
“O terceiro grupo, que agora tem aparecido, é de jovens. Na ordem dos 25/30 anos, que já são pais e que não encontram trabalho, até porque não têm habilitações”, explicou.
“Depois temos uma parte residual de pessoas que, pela vida, por tudo o que lhes aconteceu, não têm grandes condições para voltarem a ter trabalho a não ser pela revista ou pelo apoio social que damos na própria Cais”, concluiu.