Em cada mil portugueses com 60 ou mais anos, 123 podem ser alvo de algum tipo de violência, quando a média nos outros países da UE é de 21 a 22 em cada mil pessoas.
â??É um crime com que, cada vez mais, as pessoas não estão a compactuar, nem a ficarem caladas, mas ainda há muito mais a fazer em relação aos idosos», disse Maria de Oliveira, técnica da APAV, que falava à Lusa a propósito do Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosas, que tem lugar esta segunda-feira, 15 de junho.
Os casos de violência contra idosos aumentaram consideravelmente de 774 idosos em 2013 para 852 no ano passado, mas a APAV tem a noção que estes «dados podem não espelhar a realidade», adiantou.
Para apurar a veracidade do tema, a APAV realizou um estudo entre 2011 e 2014 que «demonstra que há uma prevalência de pessoas idosas vítimas de crime muito elevada [em Portugal] em comparação aos outros países europeus», adiantou a técnica.Maria de Oliveira destacou a importância de datas como a que se assinala hoje para «alertar para estas situações que ainda acontecem e que ainda são pouco denunciadas pela sociedade», apesar de já existir uma «certa intolerância a este fenómeno».
Os idosos são «vítimas de vários tipos de crime, desde burlas até às situações de violência doméstica, e tudo isto acarreta a necessidade de sensibilizar os jovens para esta temática, cada vez mais cedo», mas também alertar os idosos para os vários tipos de crime que podem estar a ser alvo e os profissionais que cuidam destas pessoas.
Para sensibilizar os jovens e crianças para esta temática a APAV tem realizado várias ações de sensibilização em estabelecimentos de ensino: «Achamos que é fundamental», porque muitas vezes «não têm noção do que é que envolve o envelhecer».
Além disso, «estas crianças e jovens serão os cuidadores de amanhã e convém sensibilizá-los» para estas questões e explicar-lhe que há várias formas de violência (psicológica, sexual, financeira, física e negligência).
Já os idosos vivem muitas vezes este crime em silêncio porque «têm medo de denunciar», «têm medo de represálias», que «ninguém vá acreditar neles», das consequências legais de estar a denunciar este tipo de situações e de pensarem que são «um estorvo».
Existem alguns casos ainda, em que os idosos têm posses financeiras, um bom lar, mas «dependem emocionalmente» do prestador de cuidados que muitas vezes é um familiar.
Para estes idosos, a APAV disponibiliza apoio social, jurídico e psicológico porque sabe que, «com esta população-alvo, o apoio tem de ser muito mais contínuo do que, por exemplo, com uma mulher vítima de violência doméstica», disse Maria Oliveira.