“A solidariedade é a minha missão de vida”, afirmava Maria Barroso na celebração do seu 82º aniversário. Uma missão que se manteve até ao final da vida, aos 90 anos.
A reforma nunca constou nos seus planos e uma das suas principais motivações para se manter ativa era a fundação que criou, em 1994 – Pro Dignitate, com o objetivo de prevenir a violência e promover os direitos humanos “através de estudos científicos, de planeamento e avaliação de medidas de prevenção e de outras ações dirigidas à defesa dos referidos direitos”.
“Vou-me embora e não me reformo… Tenho aqui a fundação e quero que isto continue. Tenho bolseiros, jovens que estudam porque eu os apoio, sobretudo africanos de língua portuguesa… Olhe, o vice-reitor de uma universidade em Luanda, a quem chamo de Fernandinho, o Dr. Fernando Macedo, foi aqui meu bolseiro. Dar a jovens esta possibilidade de estudar é para mim uma grande satisfação. Teria pena se tivesse de acabar com isso”, confessava num entrevista ao Diário de Notícias, há três anos.
Em 1996, quando Maria Barroso se despediu de Belém, começou a dedicar-se à sua própria fundação, em detrimento de assumir um papel na fundação criada pelo marido. Mais tarde, tornou-se, também, presidente da Fundação Aristides de Sousa Mendes. Manteve-se em ambos os cargos até ao seu desaparecimento.
Enquanto primeira-dama (1986-1996) desenvolveu inúmeras atividades ligadas à solidariedade, educação, cultura, integração, igualdade, saúde. Presidiu à Cruz Vermelha entre 1997 e 2003. No ano passado, assistiu à cerimónia de apresentação do seu retrato, pintado por Graça Morais, e exposto na sala D. João de Castro no Palácio do Conde d’Óbidos, em Lisboa, junto da galeria de pinturas dos ex-presidentes da Cruz Vermelha.
Maria Barroso também foi Presidente de Honra da UNICEF em Portugal, membro da Comissão de Honra da AMI, fundadora da Associação Regresso das Caravelas, membro da Fundação D. Ximenes Belo, entre muitos cargos e colaborações que estabeleceu com organizações de solidariedade.
Mantinha uma relação estreita com a Fundação Portuguesa de Cardiologia tendo, por exemplo, leiloado vestidos para ajudar a organização. Costumava apontar a sua saúde cardíaca como um dos segredos para a energia que mantinha: “Sempre que estou no Algarve faço passeios de nove quilómetros pela praia todas as manhãs. Esta é uma das razões que me levam a dizer que o meu coração está excelente e, felizmente, tem batido sempre muito bem”.
Quando o jornalista Luís Osório, numa entrevista ao Jornal i poucos dias depois de celebrar 90 anos, lhe perguntou como gostaria de ser reconhecida, Maria Barroso não deixou de mencionar a sua missão solidária, vendo-se como: “Uma cidadã modesta mas amante da liberdade, da solidariedade e do amor. A minha palavra preferida, sem qualquer dúvida…”.